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Quem o diz é, Vanessa Brito uma jovem arcuense, de 22 anos, gerontóloga de profissão. Sim, gerontóloga, uma palavra difícil de pronunciar e que contém, em si própria, uma definição complicada, mas que a Vanessa, com paixão, explica de forma simples “a gerontologia é saber conhecer, entender e estudar a vida, dificuldades, e necessidades dos idosos”. E é isso o que ela faz: cuidar e amar os ‘mais velhos’.

Vanessa confessa que desde muito nova sentiu esta vontade de trabalhar com idosos “na minha família, a começar pelos meus avós. Lembro-me de ser pequenina (7-8 anos) e querer fazer massagens nas pernas da minha avó, para a aliviar. Ou então, visitar os mais idosos da aldeia para saber se estavam bem e preparar-lhes um leite para o conchegar ou, simplesmente, falar com eles”, conta.

Desde que tem memória gosta de cuidar dos outros. Esteve sempre familiarizada com pessoas mais velhas e assim, quando apareceu o momento de escolher o que gostaria de estudar, surgiu a idea da gerontologia que, para muitos de nós, é uma ciência desconhecida “o problema da gerontologia é que as pessoas não conhecem a profissão, não entendem muito bem aquilo que fazemos. Se formos pelo conceito, a gerontologia é a ciência que estuda o envelhecimento dos seres humanos, mas ser gerontóloga, é muito mais do que isso”, refere.

Sessões Sociorecreativas

Vanessa confessa que as pessoas tendem a confundir a gerontologia com a animação socio-cultural “e não é isso que nós fazemos, de todo. Trabalhamos sim em grupo, de mãos dadas com os animadores, psicólogos, assistentes sociais e fisioterapeutas. Mas o nosso trabalho é focado em conhecer o idoso. Saber quais são as suas necessidades: físicas e emocionais. Entender a sua proveniência, as dificuldades que tem, as doenças que possui, e a partir dai, elaborar um plano para o ajudar”.

Desde que estava na faculdade sonhava com criar um projeto com o qual conseguisse, de facto, ajudar os idosos proporcionando-lhes um espaço onde se sentissem valorizados e ao mesmo tempo, onde pudessem progredir sensorial, física e cognitivamente “criar um projeto onde eu pudesse trabalhar com os idosos foi sempre um sonho. Poder implementar os conhecimentos que fui adquirindo. Caiu a pandemia, era tudo desconhecido, e os idosos eram a faixa etária mais vulnerável, e a ideia do projeto acabou por ficar em stand by”.

Vanessa acabou o curso em junho 2021. Encontrava-se , agora, plenamente capacitada para ser gerontóloga. Nesta altura o projeto, que outrora pertencesse só á sua imaginação, estava agora em papel, e a oportunidade surgiu “o presidente de junta (União de Freguesias de Jolda Madalena e Rio Cabrão) contactou-me e deu-me a oportunidade de ‘testar’ o meu projeto com as pessoas da nossa freguesia. E foi assim que surgiu o ‘Sessões Sociorecreativas’”. A jovem confessa que no início, teve muitos receios “eu tinha muita vontade que o meu projeto desse certo. E fiquei muito feliz com a oportunidade. Mas tinha receio que as pessoas não aderissem. Que não percebessem o que eu pretendia conseguir com elas. Mas felizmente, correu muito bem. Só tenho a agradecer”.

Marchas de São João (Sessões Sociorecreativas)

Assim, a Vanessa viu o seu projeto convertido numa realidade. As Sessões Sociorecreativas fizeram um ano de vida no passado mês de novembro “tenho um grupo de 15 pessoas com idades compreendidas entre os 52 e os 82 anos. Tenho um carinho muito especial por elas porque foram as primeiras que me acolheram enquanto gerontóloga. Tem sido um trabalho muito gratificante”.

Para a jovem Vanessa Brito a sua profissão é um orgulho. Num mundo onde cada vez menos os mais jovens têm interesse em cuidar dos mais velhos a Vanessa teima em contrariar a tendência tralhando dia-após-dia, com aqueles que em tempos, deram o melhor de si para cuidar de outros.

Os idosos são uma fonte de sabedoria. Não podemos tratá-los como crianças porque eles não são crianças. É um erro infantilizar as atividades preparadas para os idosos. Eles são pessoas que merecem respeito. Que têm uma vida, uma história para contar, e devem ser respeitados”.

vanessa brito. gerontóloga e fundadora do projeto sessões sociorecreativas

A jovem acredita que cada vez mais os tabús em relação aos idosos têm de ser quebrados  “é necessário cada vez mais, investir na gerontologia”. Acredita que é necessário mudar a forma como os idosos são institucionalizados “é necessário que os lares deixem de ser lugares onde os nossos idosos são colocados porque já não há mais opções. Devem ser lugares onde eles possam continuar a trabalhar na sua independência, na sua melhoria (dentro das patologias que já possam ter). Os lares não podem ser vistos como lugares onde eles estão -simplesmente- à espera da morte”.

E é este o trabalho que a Vanessa Brito faz não só enquanto fundadora das Sessões Sociorecreativas, mas também enquanto gerontóloga do Lar de Idosos de Rio Frio. Numa época na qual o despreendimento é mandamento, é necessário cada vez mais encontrar jovens comprometidos e que queiram trabalhar com a população mais idosa, que continua a ser a mais esquecida.

Quando preguntamos se é desafiante ser gerontóloga Vanessa responde, sem duvidar “É desafiante! Quem é gerontólogo é-o 24 horas por dia. Estamos sempre a pensar nos nossos idosos. Mas o trabalho que fazemos, e aquilo que recebemos deles, é muito gratificante”, afirma.

Vanessa Brito aproveitou para agradecer a todos aqueles que lhe deram a oportunidade de trabalhar naquilo que realmente a apaixona “ao presidente de junta da União de Freguesias de Jolda (Madalena) e Rio Cabrão, Rui Manuel Fernandes de Amorim, por me permitir implementar o meu sonho na nossa freguesia. A todos aqueles que me acompanham todas as semanas nas Sessões Sociorecreativas, bem como a Diretora Técnica do lar de Rio Frio e ao Presidente da Direção por confiarem em mim e me terem dado esta oportunidade de trabalhar com eles”.

O sonho da Vanessa Brito não acaba por aqui “eu gostaria que as Sessões Sociorecreativas fosse um projeto que pudesse ser levado a outras aldeias. O projeto está criado, é só conseguir o apoio das instituições (juntas de freguesia e Câmara Municipal) e assim, conseguir levar a gerontologia a outro nível no nosso Concelho”, culmina.

“Juventude, a sua beleza dura pouco. Velhice, o seu conhecimento é eterno”.

Juliano Kimura

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Diretora Arcos em Destaque

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