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Sei que o tema que escolhi para o editorial desta semana está mais do que ‘batido’, mas considero que é demasiado grave para manter o silêncio.

Portugal é um país religioso. Maioritariamente católico. O Santuário de Fátima (o Altar do Mundo), por exemplo, recebe, cada ano, milhões de pessoas que o visitam por diversos motivos: turismo, curiosidade, fé, desespero. Portugal é um país de fé.

Este ano Portugal será o anfitrião das Jornadas Mundiais da Juventude. Evento que está marcado para o próximo mês de agosto e que terá como cidade sede, a capital, Lisboa. Todos nós sabemos que qualquer evento desta envergadura implica um investimento e contra isso, nada, desde que o exagero não faça parte da equação. Dito isto, pergunto: a construção de um palco que ronda os quase 5 milhões de euros, o que será?

Cada um tem a sua fé, à sua maneira. Cada um de nós está dotado do livre arbítrio e pode -porque tem esse direito- acreditar no que quiser. Mas acho que a fé e a religiosidade nada tem a ver com opulência. E nos tempos nos quais vivemos, de profunda desigualdade social e fome, ‘investir’ quase 5 milhões de euros em um palco, para receber o Papa nas Jornadas Mundiais da Juventude 2023, é no mínimo, gozar com os contribuintes.

O dinheiro público deve ser bem gerido. Nada tenho contra a realização das Jornadas Mundiais da Juventude, mas o Estado é laico, e é assim que se devia manter. Não podemos ostentar opulência quando bem debaixo daquele palco, há famílias lisboetas em graves dificuldades económicas e pessoas a dormirem debaixo das pontes.

E com isto não quero dizer que a autarquia deva solucionar os problemas de cada uma das famílias em necessidade, mas pelo menos, ao gerir melhor o dinheiro público, as melhorias poderiam bater à porta de cada uma dessas famílias.

É caso para dizer:

há pessoas que olham apenas o palco, e esquecem-se de olhar os bastidores”.

Paulo Valzacchi
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Diretora Arcos em Destaque

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