Todos nós, ao longo da nossa vida, já ouvimos alguém a nos dizer: tens mudado tanto! E essa frase nem sempre traz uma conotação positiva. A vida é mudança. Um constante suceder de acontecimentos que nos marcam. E cada uma dessas marcas deixa rastos na nossa forma de ser, nas nossas atitudes.
Uma vez li uma frase que me pareceu muito verdadeira ‘as pessoas sempre notam quando mudamos a nossa atitude em relação a elas, mas não reconhecem as atitudes que tiveram connosco e que motivaram a nossa mudança’, e cada vez mais esta frase faz sentido na minha cabeça.
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Somos amigos enquanto os favores são feitos, as palavras mansas e as ajudas céleres. Crescemos com a ideia de que devemos ser prestáveis, simpáticos, politicamente corretos –porque assim evitam-se muitos dissabores– e habituamo-nos, desta forma, a pensar demasiado antes de falar, a medirmos as consequências de tudo aquilo que fazemos.
Não quero dizer com isto que devemos andar pela vida sem filtros, dizendo tudo aquilo que nos passa pela cabeça, e muito menos, vivendo de forma irresponsável; mas devíamos sim, naturalizar e acima de tudo, normalizar as opiniões e/ou atitudes quando vão de encontro aquilo que nós somos, e não precisamente aquilo que os outros querem que nós sejamos.
Saber dizer não é um assunto que para muitos de nós é quase impossível; tal a conotação negativa que a pequena palavra tem no nosso processo de sociabilização. Somos capazes de dizermos sim sempre! A tudo, ante qualquer circunstância. Dizemos que sim porque foi a amiga, ou a mãe, ou o irmão que pediu, e nós ficamos com a boa sensação de sermos simpáticos e boas pessoas. Mas realmente estamos bem? Não? Pois não! Porque afinal isso não interessa, a ninguém lhe interessa.
E quando um dia, nos enchemos de valor, e dizemos que não, porque não podemos, porque não conseguimos, ou simplesmente, porque não nos apetece, começa o coro de vozes a entoar: ‘que mudada (o) que estas’! ‘Tu dantes não eras assim!’ ‘Eras tão prestável’! ‘Jamais esperei um não da tua parte’! E desta forma começa a espiral decadente das ‘más línguas’ a crucificarem uma atitude que nada teve de errada, e que simplesmente procurou, ainda que fosse só por uma única vez, ir de encontro aquilo que precisava, que queria, que procurava, que desejava!
E como por obra e graça do Espírito Santo aquele ser imaculado, que sempre foi nosso amigo, o melhor que alguma vez pisou a fase da terra, converteu-se, num ápice, na personificação da mudança para o mal, na pior desilusão de alguém…e só porque, num dia diferente, apeteceu-lhe dizer que não. Não porque assim o quisesse, mas sim porque precisava de alguma paz!
Porque isto de estar sempre pronto para tudo e para todos, dói e faz cansar!