Já alguma vez se perguntou se os seus ambientes influenciam o seu humor ou o seu bem-estar? Provavelmente, a sua resposta será, Não! Uma resposta perfeitamente normal, quando ainda não estamos conscientes que todo o nosso entorno tem influência nas nossas emoções, pensamentos e comportamentos. A verdade é que nós vivemos 90% do nosso dia em ambientes construídos, uma percentagem muito grande para não refletir sobre o assunto.
Para responder a esta questão, fundou-se, em 2003, a Academia de Neurociência Para A Arquitetura (ANFA), sediada em San Diego, EUA. Emerge, assim, a Neurociência aplicada à arquitetura (arquitetura baseada em evidências científicas), do vulgo “Neuroarquitetura”.
Mas uma coisa de cada vez (e de maneira – muito- resumida) passamos às definições. O que é a neurociência? Segundo Mailton Vasconcelos, PhD, “é o estudo científico do sistema nervoso, sendo uma ciência interdisciplinar que contribui para outros campos como a educação, química, antropologia, linguística, medicina, comunicação, psicologia, arquitetura/ design entre outras.”
O que é a neurociência aplicada à arquitetura? Propõe-se a desvendar os efeitos do ambiente, como, por exemplo, a perceção espacial, a luz, as cores, a temperatura, entre outros, no cérebro e consequentemente no comportamento humano, para traduzir, essa informação, em ambientes que visam a qualidade de vida e bem-estar das pessoas. Assim, a ‘neuroarquitetura’ tem como foco a pessoa, pois entende-a como individuo com as suas características de personalidade, cultura, valores, memórias e experiência de vida.
Onde se aplica a “neuroarquitetura”? Aplica-se em ambientes residenciais, corporativos, saúde e comerciais. Perguntará, “Como é que eu sei, se os meus ambientes estão a afetar-me?”. É uma questão pertinente. Primeiro precisamos saber que todos os ambientes nos afetam, estejamos ou não conscientes disso, não existem ambientes neutros, todos os espaços impactam de maneira negativa ou positiva. Isto é ponto assente.
Segundo: Observar e Questionar: “Como está o meu humor? E o meu sono?”; “A minha casa é um lugar calmo e feliz? Está alinhada com as minhas intenções e objetivos?”; “O meu local de trabalho é um lugar onde posso ser criativo e manter-me focada/o?”. Até porque, “tudo nasce do interior do indivíduo, refletindo-se no contexto exterior, e todo o universo exterior repercute no seu interior”, Jun Okamoto, arquiteto e autor. Isto é, é muito difícil sentir-se bem interiormente, se e os seus ambientes forem um caos (e aqui caos é muito subjetivo, eu por exemplo, não convivo com livros desalinhados, para outras pessoas é totalmente indiferente, por isso que se concentra tanto em atender as reais necessidades do utilizar e por consequência personalizar o espaço).
Terceiro: sentir o espaço. Significa, dar importância aos cinco sentidos – visão, olfato, tato, paladar e audição-. É através do estímulo destes sentidos que a informação sobre o nosso entorno chega e é processado pelo cérebro – é um processo de segundos-. Um ambiente multissensorial e rico produz uma experiência espacial memorável. Não confundir, com hiperestimulação dos sentidos, isso é a vertente negativa e traz prejuízos para o bem-estar (dores de cabeça, falta de produtividade, desânimo…). Então, o que se pretende é que os utilizadores tenham uma experiência multissensorial completa e congruente, que reforce o seu bem-estar.
Projetar com arquitetura baseada em evidências científicas, não é tão simples e linear quanto possa parecer, não existe uma ‘receita pronta’ na qual eu digo, “isto é que é o certo, é a verdade absoluta, se funcionou bem com um individuo, funcionará bem com toda a gente.”. Seria uma visão muito fechada e superficial, onde existe uma carência de empatia pela pessoa para quem se projeta. Entenda, por exemplo, utilizar a cor azul para um quarto pode ser uma escolha assertiva, pois a psicologia da cor diz-nos que “pelo seu efeito calmante é um tom que se adequa aos quartos”, já a neurociência refere “atinge o córtex pré-frontal na parte responsável pelo raciocínio lógico e pela competência comunicativa. Resposta transmitida: Tons mais claros transmitem frescor e higiene”. No final, acaba por ser uma escolha muito bem-sucedida.
Contudo, para outro utilizador, esta cor pode ser tudo menos assertiva, porque a pessoa pode ter uma memória negativa associada a esta cor, por exemplo, se na sua infância houve um episódio de quase afogamento no mar, vai associar o azul a insegurança e medo.
Em resumo, a neurociência aplicada à arquitetura propõe o desenvolvimento de ambientes conscientes e humanizados. Ambientes que ofereçam conexão, experiências multissensoriais e envolventes, os quais designamos como Ambientes Memoráveis.
Antes de nos despedirmos, sugiro que faça o seguinte exercício: escolha um ambiente da sua casa ou trabalho, reserve-lhe 10 minutos de atenção plena. Observe, perceba quais estímulos recebe – usando os cinco sentidos- e que sensações lhe são transmitidas – frio, calor, acolhimento- anote.
Guarde esta lista, porque em breve, mergulhamos juntos numa viagem pelos Ambientes Memoráveis/ Afetivos, as variáveis ambientais, para que consiga de forma simples, aplicar alguns conceitos, e assim, trazer bem-estar aos seus espaços e florescimento para a sua Vida.
Conto consigo nesta viagem! Até Breve!