Olá caro leitor! Acabamos de celebrar a Páscoa. Período de reflexão sobre amor, perdão e compaixão!
Sendo católico ou não, acredito que em algum momento da sua vida tenha ouvido falar de Jesus Cristo, que morreu com o intuito de libertar a humanidade do pecado e do seu percurso até ser crucificado! Quando lemos o seguinte excerto bíblico: “Ao ver as multidões, Jesus sentiu grande compaixão pelas pessoas, pois estavam aflitas e desamparadas como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9, 36), entendemos que Jesus não teve simplesmente um sentimento de pena pelas pessoas que estavam desamparadas, mas sentiu com elas o sofrimento de estar desamparado. O meu desafio é levar o caro leitor a refletir um pouco sobre a compaixão.
Há diferenças entre pena e compaixão. Enquanto a pena é uma sensação de aflição e tristeza em relação ao estado de outra pessoa, a compaixão faz –nos agir para diminuir aquele sofrimento. Na compaixão há maior empatia entre a pessoa que sente compaixão e a pessoa que sofre. Ou seja, a pessoa que sente compaixão coloca-se no lugar das pessoas que sofrem e não numa posição superior a elas. Assim, ao contrário da pena, a compaixão é positiva porque não diminui o outro.
Então o que é a compaixão?
Literalmente, significa “sofrer com”.
A compaixão é a capacidade de sentir com a outra pessoa, ou seja, é a capacidade de sentir o mesmo que o outro está a sentir. É uma espécie de solidariedade na dor e no sofrimento. Significa que somos capazes de notar o sofrimento dos outros e que sentimos vontade de cuidar e de ajudar de alguma forma. Significa que somos capazes de oferecer compreensão e gentileza aos outros quando eles falham e erram, em vez de os julgar. Significa que compreendemos que o sofrimento, o fracasso e imperfeição são partes da experiência partilhada por todos os seres humanos.
No entanto, quando olhamos para nós próprios, nem sempre temos presente a compaixão, esse olhar compassivo que aplicamos aos outros. Porque é que quando falhamos, fracassamos ou não gostamos de algo em nós, tendemos a criticar-nos, a sermos demasiado duros na nossa avaliação? Simplesmente, porque permitimos que a nossa voz interior se torne desmesuradamente negativa, sempre focada no que está errado… Mas porque o fazemos, então?! Apenas, porque não sabemos usar a autocompaixão.
A autocompaixão não é mais do que voltar a compaixão para nós mesmos, agindo da mesma forma em relação às nossas dificuldades. Em vez de nos criticarmos e julgarmos, a autocompaixão leva-nos a que sejamos gentis e compreensivos quando nos confrontamos com as nossas imperfeições e fracassos e isso revela que aceitamos a nossa humanidade, que aceitamos que as coisas nem sempre vão correr como desejaríamos, que vamos ter perdas, que vamos encontrar obstáculos e que tudo isto faz parte da nossa condição humana, partilhada por todos nós. Quanto mais nos abrirmos a esta realidade em vez de lutar contra ela, mais capazes seremos de sentir compaixão por nós mesmos e pelos outros.
Kristin Neff, uma psicóloga americana que se tem dedicado ao tema da autocompaixão, definiu 3 elementos que a constituem:
- Ser gentil consigo mesmo – as pessoas que sentem autocompaixão reconhecem que ser imperfeito e passar por dificuldades é inevitável, por isso, tendem a ser gentis consigo quando enfrentam dificuldades.
- Ser humano – a autocompaixão implica reconhecer que as imperfeições, o fracasso, a vulnerabilidade e o sofrimento fazem parte da experiência humana e que todos a vivem, não sendo algo que acontece apenas a “mim”.
- Mindfulness – a autocompaixão requer que adotemos uma postura mindful, ou seja, que pratiquemos um estado mental de não julgamento e de aceitação das nossas emoções e dos nossos pensamentos tal e qual como são, sem tentar reprimi-los nem exagerá-los.
Assim, nos momentos em que estiver a ser demasiado exigente ou exageradamente crítico consigo, perceba o que está a pensar e o que está a sentir, lembre-se que é apenas humano e pergunte a si mesmo: “Se fosse alguém que amo e estivesse nesta situação, o que lhe diria? De que forma tentaria ajudar? O que gostaria que essa pessoa fizesse?”. A “receita” não é complicada… Só precisa de aplicar em si mesmo, a bondade e o cuidado que daria a quem ama!
Poderá estar a pensar que se fosse assim tão fácil ter compaixão e autocompaixão, a sociedade em que vivemos não estaria tão destruturada, tão complicada, tão conflituosa!
De facto, embora vivamos num contexto difícil e incerto, ainda conseguimos ver o melhor nas pessoas. Vemos pessoas a procurar ser empáticas e a demonstrar compreensão pelos sentimentos e emoções do outro, mas também vemos pessoas que vão mais além, demonstrando compaixão e vontade de ajudar o próximo a superar os seus problemas.
Esta sensibilidade de se saber colocar no lugar do outro, imaginar aquilo pelo que está a passar e agir para ajudar, deixa marcas que mudam a vida para melhor – a vida de quem é ajudado e sobretudo a vida de quem está a praticar a compaixão.
Então como praticar e fortalecer a compaixão? Comece com estes 6 passos:
- Seja empático: evite perder tempo com julgamentos e concentre-se na ajuda que pode dar para aliviar a dor alheia, independentemente do que ela represente para si. Crie empatia pelas vivências dos outros e encontre maneiras de ajudar;
- Tenha iniciativa: observe quais as necessidades do outro, sem julgar e coloque-se à disposição, com boa vontade, de coração aberto e pronto para agir;
- Pratique a atenção consciente: esteja presente no momento e ofereça a sua reação empática ao que está a acontecer ali. Isto permite que se foque no outro, em vez de se focar nas suas próprias reflexões;
- Evite o sentimento de pena: agir por pena corresponde a sentir-se superior ao outro e implica distanciamento e separação. Reconheça a falha, o descuido e o erro como situacionais e acredite no potencial das pessoas;
- Expresse gratidão: é provável que tenha recebido atos compassivos. Reconheça esses atos de gentileza que lhe foram feitos e expresse gratidão por eles;
- Aceite o seu Eu: a compaixão vai além de um exercício com o outro e passa por um processo de autoconhecimento. Seja compreensivo consigo mesmo, perdoe as suas próprias falhas e produza um sentimento positivo.
Após conhecer estes passos, já se apercebeu que a compaixão começa no Eu. Pratique a autocompaixão, para depois poder pensar no outro. Ter autocompaixão representa ter autoconhecimento, autocuidado e amor-próprio!
Sabia que praticar a compaixão ajuda a aumentar a sua Inteligência Emocional?
2 comentários
Artigo fantástico.
E consigo-me rever em tudo o que nele está escrito. Mas porque simplesmente não os pratico. Não por maldade, mas sim por andar demasiado focado no meu dia a dia que nem olho para o lado.
Mas vou fazer o exercício de ser ou ter mais compaixão. Isto é, ser melhor pessoa para mim e para os outros.
Obrigado pelo conhecimento que nos tem transmitido.
Obrigada Manuel Barbosa pelas suas amáveis palavras. Todas as criticas são uma motivação para continuar nesta jornada. Gratidão!