O anfitrião impercetível – o cheiro- abre-nos as portas para a descoberta do mundo invisível, que dança majestosamente com as nossas narinas, ora como se fossem eternos namorados, ora como se afastassem e repelissem como eternos rivais.
O olfato é um dos sentidos que nos acompanha desde o início, devemos-lhe um agradecimento, pelo seu contributo na nossa evolução e adaptação ao mundo. De todos os nossos sentidos é o único que não precisa de neurotransmissores, pois o nariz e as vias respiratórias estão diretamente conectados com o nosso cérebro, mais propriamente ao sistema límbico, que está ligado, acredita-se, à memória e à emoção.
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Já sabemos que o olfato representa 75% das nossas emoções diárias, não podemos vê-lo, não podemos ouvi-lo, nem podemos tocá-lo, contudo, podemos fazer dele um dos nossos aliados para o nosso bem-estar. As evidências dizem-nos que aromas agradáveis nos deixam mais felizes, evocam emoções positivas, diminuem compulsões, reduzem estados de humor negativos, além de reduzir índices fisiológicos de stress, incluindo diminuição de dor.
Como aplicar nos nossos ambientes?
Em primeiro lugar, temos de definir que um determinado cheiro é para um determinado ambiente. Mas atenção! Não vamos colocar aromatizadores ou sprays diferentes pela casa toda, seria a sinfonia olfativa mais desarmoniosa de sempre, e o que supostamente era para o bem, passar a ser para o mal. Vamos então por partes:
- A cozinha tem de cheirar a comida – não é fritos! – pode ser o delicado cheiro a bolo acabado de fazer, o cheiro adocicado a canela, a café fresco ou a fruta.
- Na casa de banho, podemos colocar ramos de eucalipto, por exemplo.
- Possivelmente, na sala de estar e no hall de entrada colocamos um aromatizador de varetas.
- Nos quartos podemos usar um borrifador, onde juntamos gotas de óleos essenciais e água, pulverizando os tecidos – lençóis, cortinas e tapetes-.
É igualmente possível, usar os aromas como âncoras e induzir-nos a um determinado estado/ comportamento. Por exemplo, eu associei o aroma da menta ao momento de trabalho. Como é que eu faço? Defini que sempre que eu cheirar o óleo essencial de menta, vou sentir-me ativa, tranquila, determinada e que aquele momento é para estar 100% dedicada ao que estou a desenvolver, assim, inalo o aroma antes de começar a jornada de trabalho e posso inalar sempre que altero tarefas. No entanto, este é o aroma que faz sentido para mim, para outra pessoa poderá ser o cheiro a citrinos.
Por exemplo, quando quisermos relaxar e diminuir a ansiedade podemos utilizar o aroma a lavanda ou bergamota, segundo um estudo “sugeriu-se que a inalação de óleo essencial de bergamota pode ter potenciais benefícios terapêuticos, incluindo melhorar a saúde mental geral e ansiedade”.
Outros estudos, na área de aromacologia (ciência que estuda como os odores influenciam o comportamento das pessoas) indicam que:
- Lavanda, camomila, cítricos ou canela: ajudam na eliminação da fadiga.
- Lavanda, manjericão, erva-doce: ajudam a diminuir a pressão arterial.
- Limão, rosa ou jasmim (utilizadas em escritório): melhoram o ânimo e produtividade.
Como é percetível os aromas tocam-nos de uma forma inconsciente, no entanto moram connosco por toda uma vida. Assim, se quisermos que uma memória seja mais persistente, adicionamos um cheiro, um cheiro que nos faça feliz, nos abrace e envolva.
Estas são as palavras de Juhani Pallasmas, arquiteto finlandês, que expõe a importância dos sentidos, no ensaio “Os olhos da pele – a arquitetura e os sentidos”
não me consigo lembrar da aparência da porta da quinta do meu avô quando eu era muito pequeno, mas lembro muito bem a resistência imposta pelo seu peso e a pátina da sua superfície de madeira marcada por décadas de uso, e recordo-me especialmente do aroma da sua casa que atingia o meu rosto como se fosse uma parede invisível por trás da porta. Cada habitação teu o seu cheiro individual de lar”.
Juhani Pallasmas
A nossa jornada pelos sentidos continua, no próximo artigo, falaremos sobre o tato. Conto consigo, até breve!